Conheça a história de Alexandre Badolato, um colecionador com tantos Dodges na garagem que criou um museu para abrigá-los
18 de junho de 2019 - A história de amor do paulista Alexandre Badolato com a Dodge começou cedo, numa época em que a Chrysler fabricava seus carrões em solo brasileiro. “Comecei a me interessar por automóvel nos anos 1970”, diz o empresário, hoje com 49 anos e uns 160 Dodges. Você leu certo: Badolato tem mais de três Dodges para cada ano de vida, proporção que continua aumentando. Desde 2010, ele mantém nas proximidades da cidade de Campinas (SP) o Museu do Dodge, que construiu com a esposa, engenheira, para abrigar a coleção.
O início da década de 1970 foi o auge da produção da Chrysler no Brasil. Mas ela esbarrou na crise do petróleo. “A fábrica fechou e os dojões perderam o valor de tal forma que muitos foram abandonados ou destruídos”, conta Badolato, que não coleciona apenas os carros, mas também suas almas: as histórias. “Sobrou cerca de 6% da produção”, calcula. Dessa sobra, boa parte foi resgatada e hoje faz parte da coleção de Badolato, que restaura os carangos para devolver a majestade original, incluindo, é claro, o característico e hipnótico ronco dos motores V8, que ele faz questão de manter funcionando.
“Gló-gló-gló-gló-gló”, Badolato tem perfeita a onomatopeia na cabeça. Embora mais frenético, o som lembra bem o de uma garganta boa de gole, o que, convenhamos, combina perfeitamente com esses muscle cars bonitões, né? Só que eles bebem gasolina, claro. Se você ainda não tinha entendido, eis o motivo de poucos terem sobrevivido à crise do petróleo... “Eles tinham se tornado inviáveis para o usuário normal. Pessoal começou a trocar o carro por rádio, geladeira. Ficaram abandonados e sucateados”, conta Alexandre.
O jovem que já curtia carros se apaixonou perdidamente quando viu e rodou pela primeira vez no Dodge do avô, um Dart sedã 1979 bege. Tinha algo naquela estrutura, naquele design, no ronco do motor, enfim, que conquistou para sempre o coração de Alexandre. “Eu queria tanto um carro desses. Será que quando eu tirar carta vai sobrar algum?”, perguntava-se, preocupado com os efeitos da crise. Naquele momento, ele decidiu que teria um Dodge assim que fizesse 18 anos e tirasse sua habilitação. Demorou um ano a mais, mas, aos 19 anos, ele conseguiu: “Em 6 de janeiro de 1990 comprei meu primeiro Dodge. A intenção era preservar. Mas dois anos depois apareceu um modelo que eu gostava mais, muito mais raro. Comprei o segundo, fiquei com dó de vender o primeiro e fui comprando um depois do outro. Logo, estava colecionando”, conta. O primeiro foi um Le Baron 1981, comprado com a ajuda do pai. “Eu queria mesmo era um Charger R/T, mas foi bom ter comprado o Le Baron primeiro, porque ele não estava em bom estado, então me ensinou muito de mecânica”, brinca, falando sério.
O segundo foi, claro, o Charger R/T, ano 1979, com rodas de liga leve. Mais sete anos se passariam até a compra de mais um Charger R/T, um 1972, que ele finalmente restaurou em 2002. Promover o renascimento daquele ícone despertou em Badolato o desejo de continuar a nobre empreitada. “Eu gostava muito dos Dodges V8 nacionais, como Dart e Charger”, diz. “O Dart 1971 e o Charger 1971 parecem totalmente diferentes, quando, no fundo, são o mesmo carro”, conta. “E eles realmente eram muito diferentes do que se fazia na indústria automobilística brasileira. Diferente dos concorrentes, a Chrysler trouxe para o Brasil exatamente o mesmo produto que vendia nos Estados Unidos, inclusive a mecânica. Em outubro de 1969, a Chrysler lançou por aqui o mesmo carro que havia lançado nos EUA apenas um ano antes”, lembra. Era o Dodge Dart, com seu monstruoso motor V8 de 318 polegadas cúbicas (cerca de 5,2 L) e 198 ou 215 cv de potência, conforme a configuração. Em cilindrada, foi o maior motor de automóvel já fabricado no Brasil, desenvolvendo 41,5 kgfm de torque. “É bastante até para os dias de hoje. E bem acima da média de desempenho dos carros atuais", observa Badolato.