“O propulsor ficou com potência pouco maior que a do similar a gasolina, devido à necessidade de conter o consumo: 62 cv brutos contra 61. Por outro lado, a taxa de compressão mais alta favorecia o torque e, portanto, as retomadas e acelerações em baixa ou média rotação. Mas o número que realmente importava era o custo por quilômetro rodado, menos da metade da versão a gasolina, com os preços dos combustíveis na época”, destaca Cotta.
O enorme interesse do consumidor pelo Fiat 147 movido a etanol é confirmado pelos números de vendas. De 1979 a 1987, período em que foi comercializado no Brasil, foram vendidas 120.516 unidades. “Foi uma revolução no sentido da matriz energética, pois não existia em nenhum lugar do mundo”, destaca Renato Romio, chefe da divisão de motores e veículos do Instituto Mauá de Tecnologia. “Além disso, a relação custo-benefício do carro com o novo combustível era muito boa, pois o preço do etanol era praticamente 50% menor que o da gasolina e o desempenho do veículo com o álcool também era melhor. Não à toa, os carros a etanol começaram a despontar como líderes de vendas no país”.
Desafios de uma nova tecnologia
O desenvolvimento do motor a etanol não foi uma tarefa simples e muitos desafios técnicos foram solucionados ao longo do percurso, como lembra Renato Romio. “Os fabricantes tiveram que desenvolver importantes soluções, como um tratamento de proteção especial para os carburadores, plásticos e materiais de válvulas mais resistentes, enfim, mudar as características do motor para que ele não quebrasse.”
Supervisor de Engenharia de Produto da FCA, Ronaldo Ávila, que na década de 1980 trabalhava no laboratório químico da montadora, acompanhou de perto os constantes aperfeiçoamentos do 147 a etanol. “Minha equipe analisava as peças dos motores. Era um desafio muito grande: no início havia oxidação. Para que viesse a funcionar com o etanol, o sistema de alimentação como um todo [tanque de combustível, bomba, tubulações, carburador, etc.] precisou ser mais robusto para suportar um combustível extremamente corrosivo”, conta.
Após muitos testes, a engenharia da Fiat encontrou uma solução para proteger as peças do motor: o uso de níquel químico. “Esse metal cria uma camada de proteção nos componentes, inibindo as ações do etanol”, explica Ávila. Outra providência foi a instalação de conjunto de escapamento aluminizado.
Por ser o pioneiro entre os carros a etanol, o Fiat 147 foi também o primeiro a encarar algumas características do combustível, como o baixo poder calorífico em relação à gasolina. Na prática, isso significava a lendária maior dificuldade para dar a partida no motor em dias frios. “Para resolver esse problema, a engenharia instalou o reservatório de partida a frio. Um botão no painel do carro aciona uma bombinha igual a do lavador do para-brisa e ela injeta no coletor de admissão uma quantidade de gasolina suficiente para dar a partida principalmente em baixas temperaturas”, detalha Cotta.